Com foco na inclusão produtiva e valorização cultural, o Sebrae/MS, em parceria com o Sistema Comércio MS, promoveu neste mês de maio, duas edições do curso “Higiene e Manipulação de Alimentos” voltadas a públicos tradicionais da região Sul do estado. A iniciativa atendeu, de forma gratuita, mulheres indígenas das aldeias Jaguapiru e Bororó, localizadas no município de Dourados, e produtores rurais da Comunidade Quilombola São Miguel, em Maracaju, promovendo profissionalização e incentivo ao empreendedorismo local.
As capacitações têm como objetivo qualificar os participantes nas boas práticas de higiene e manipulação de alimentos, contribuindo diretamente para a melhoria na qualidade dos produtos e a ampliação de oportunidades de geração de renda. Para o gerente da Regional Sul do Sebrae/MS, Marcus Faria, as ações demonstram o compromisso da instituição em atender perfis diversos de empreendedores. “O Sebrae acredita que o empreendedorismo é uma ferramenta poderosa de transformação social. Ao promover cursos como este, voltados a públicos tradicionais, contribuímos para a inclusão produtiva e para o fortalecimento dos negócios. É uma forma de profissionalizar e oferecer novas perspectivas para apoiar esses empreendedores, inclusive na conquista de novos espaços no mercado”, destacou.
Em Dourados, o curso foi realizado de 14 a 16 de maio, no período noturno, na sede do Sebrae no município. A turma, composta por 16 pessoas, era formada majoritariamente por mulheres indígenas que estão à frente de negócios de produção de alimentos em suas comunidades e buscam ampliar suas possibilidades de atuação empreendedora. A perspectiva de mercado é ampla, tanto dentro quanto fora das aldeias, que juntas — Jaguapiru e Bororó — abrigam cerca de 15 mil indígenas.
Indígena da etnia Guarani Kaiowá, Talita Ribeiro Martins criou o empreendimento “Sabor de Casa”, que istra junto com o filho e onde produz cerca de 20 marmitas por dia na Aldeia Jaguapiru. O negócio se destaca pela venda de espetinhos no horário do almoço e tem crescido entre os próprios moradores da comunidade, por meio da divulgação em grupos de WhatsApp. Como a intenção é sair do aluguel, ela conta que o curso foi essencial para que a reforma no novo espaço já atenda às exigências das boas práticas do setor de alimentação.

“Como a professora disse, uma coisa é cozinhar para a família e outra, bem diferente, é oferecer refeições aos clientes. É muita responsabilidade, e por isso temos que ter cuidados redobrados. Então o curso trouxe muito conhecimento nesse sentido”, afirmou a empreendedora.
Já Ana Marcia Cândido de Oliveira, indígena da etnia Terena, sai da Aldeia Jaguapiru para atender na casa dos clientes na região urbana de Dourados, preparando refeições congeladas para consumo ao longo da semana. Atuando nesse segmento há cerca de cinco anos, ela destacou que o curso trouxe mais confiança para continuar o trabalho, agora com respaldo técnico.
“Sempre cuidei muito da higienização e aqui aprendi ainda mais. O que mudou é que agora eu sei que não é ‘neura’ e vou poder falar com mais segurança o que pode e o que não pode ser feito na hora de preparar e também de armazenar. Outra coisa que aprendi melhor foi sobre as temperaturas dos alimentos e como calcular a validade do produto considerando cada ingrediente. O curso foi muito bom e agregou muito”, contou Ana Marcia.
Da horta para a merenda escolar
Em Maracaju, a capacitação aconteceu nos dias 20 e 21 de maio, na Comunidade Quilombola São Miguel, beneficiando 19 produtores rurais. A comunidade é referência em agricultura familiar na região e conta com cerca de 60 famílias que empreendem com a produção de hortifrúti, polpas de frutas, pães, doces, mel, rapadura e farinha de mandioca. Fundada em 1942, a comunidade quilombola reúne descendentes de pessoas submetidas à escravidão, que encontraram na produção de alimentos uma alternativa de sustento e fortalecimento da identidade local.
Os produtos cultivados na comunidade abastecem escolas da rede municipal por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e também são vendidos em feiras e mercados da região. Neste sentido, segundo o presidente da Comunidade Quilombola São Miguel, Jaime Gabriel, além do público em geral, a maior preocupação dos produtores é com a saúde das crianças que consomem os alimentos nas escolas públicas.

“Este curso veio nos capacitar para que possamos fazer da melhor forma possível, agregando valor ao nosso produto e trabalhando com segurança. Assim, conseguimos mandar nossos alimentos com mais credibilidade, para que os alunos possam comer e não ter nenhum tipo de mal estar. O curso nos ajuda a desenvolver nossas funções corretamente”, explicou a liderança.
O produtor rural Ronaldo Santana aprovou a iniciativa. “Este curso está sendo de grande valia, um aprendizado para todos nós. Estávamos mesmo precisando de um treinamento, de uma orientação sobre a manipulação e a higiene na produção de alimentos. Está sendo uma grande ajuda, que vai nos permitir entregar um produto de qualidade, principalmente para as escolas. O Sebrae e os demais órgãos parceiros têm sido grandes aliados do homem do campo. Vai ajudar muito mesmo e fazer com que nosso alimento chegue à mesa dos brasileiros com qualidade”, ressaltou.
Além do hortifruti, Nathaly Gonçalves produz bolos, conservas, geleias e rapadura. Ela destacou que a capacitação veio em um momento oportuno para fundamentar o crescimento de seus negócios. “Este curso me abriu novas portas e me trouxe aprendizados que eu não tinha, ou que achava que sabia. Questões como limpeza, manutenção, equipamentos — tudo isso abriu uma nova perspectiva para mim, que estou com um projeto de abrir uma agroindústria e expandir meus bolos. Agora, posso comercializar com mais segurança”, disse.
Esta edição do curso Higiene e Manipulação de Alimentos contou com apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Mato Grosso do Sul (Fecomércio/MS), Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente (SEDEMA) e as Prefeituras Municipais de Maracaju e Dourados.
Com carga horária de 10 horas, o conteúdo do curso incluiu temas como: noções gerais sobre alimentos e microorganismos; parasitologia e doenças transmitidas por alimentos; conservação, estocagem e manipulação correta; higiene pessoal e dos utensílios; controle de pragas e roedores; saúde dos trabalhadores e análise laboratorial. A capacitação reforça a importância das boas práticas como fator estratégico para a valorização e comercialização segura dos produtos alimentícios.
Mais informações sobre as ações promovidas pelo Sebrae/MS podem ser obtidas por meio do site ms.sebrae.com.br ou pelo telefone 0800 570 0800.